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Shanzhai: falsificação ou uma cultura disruptiva?



Shanzhai é uma palavra de origem chinesa que significa desconstrução.


Em alguns lugares, a conotação é de reinvenção. Em outros, o termo está relacionado à pirataria ou aos bens de consumo falsificados. As percepções variam inclusive dentro da própria China.


Apesar da má fama gerada pelos produtos Made in China, os shanzhai são uma questão cultural no país e acometem desde eletrônicos até fanfics de livros famosos.


O termo Shanzhai tem origem nas histórias folclóricas chinesas, onde geralmente se referiam aos "foras da lei" da sociedade que lutavam por autonomia, independência e novas maneiras de sobreviver.


Nos anos 50, Shanzhai começou a ser aplicado à indústria de transformação. As pessoas utilizavam este termo para descrever pequenas fábricas familiares perto de Hong Kong que produziam produtos baratos e de baixa qualidade, para se estabelecerem fora da economia oficial.


O negócio principal dessas fábricas era fazer produtos falsificados de marcas ocidentais famosas, como Nike e Louis Vuitton. Esses produtos foram vendidos em mercados que não podiam pagar pelos caros.


Como resultado, uma densa rede de pequenas empresas de manufatura surgiu na China durante os anos 90. O típico dessa rede era que os negócios eram feitos por meio de uma rede social informal e uma cultura de compartilhamento.


A cultura Shanzhai ou design aberto reflete uma ideia de trabalho aberto, rápido e baseado no compartilhamento de conhecimentos e recursos. Portanto, o conceito de propriedade intelectual não possui o mesmo peso e implicações na China como no Ocidente.


Se o termo desconstrução lembra disrupção, é possível fazer um paralelo entre o fenômeno chinês e o conceito de Inovação Disruptiva, criado pelo professor Clayton M. Christensen, principalmente pela acessibilidade, conveniência e simplicidade dos shanzhai.


Quando os primeiros celulares chegaram à China, em 2003, eram considerados artigos de luxo e custavam entre USD 900 e USD 1.100. Após 10 anos, os smartphones democratizaram o mercado: o número de aparelhos saltou de 270 milhões para 1,5 bilhões.


A economia shanzhai começou a atuar oferecendo suporte para adaptar sistemas operacionais e periféricos incompatíveis para modelos “universais”. A partir de então, nasce um mindset de disrupção open source.


Hoje, o movimento abocanha parte do mercado formal e sustenta uma economia paralela. Em 2016, do 1 bilhão de celulares produzidos em Shenzhen, 150 milhões eram shanzhai.

Segundo o Financial Time, em 2010, esses "telefones shanzhai" representavam aproximadamente 20% do mercado mundial de celulares.


Shenzhen é talvez o modelo mais bem sucedido do sucesso das políticas desenvolvimentistas na China. Antes considerada linha de montagem de aparelhos Apple e Samsung, Shenzhen atualmente é conhecida como o Vale do Silício do Hardware.


A boa reputação da cidade ganhou o mundo em 2016, quando se tornou a maior produtora de smartphones do mundo. Entretanto, a história da cidade se confunde com o fenômeno shanzhai. E apesar de toda a controvérsia sobre pirataria e direitos autorais, uma sociedade shanzhai resulta em um ecossistema de inovação notadamente próspero.


Embora os fabricantes de telefones em Shenzhen possam ter começado como copiadoras, eles se tornaram algo completamente diferente: fábricas altamente flexíveis, criativas e focadas no cliente. Suas práticas alteraram novos mercados e como os negócios de tecnologia são feitos em geral.


Ao compartilhar abertamente essas informações, essas empresas tornaram muito fácil para os novos fabricantes de telefones entrarem no negócio. Com o tempo, milhares de empresas surgiram e conseguiram dominar a produção de telefones, aplicando o conhecimento e as tecnologias compartilhadas.


Diferentemente das marcas ocidentais, essas fábricas poderiam produzir telefones de USD 15, para os quais encontraram forte demanda em mercados em desenvolvimento como África, Leste Asiático e Índia.


Atualmente, a economia shanzhai responde diretamente por cerca de 300 mil empregos e é inegável seu papel no processo de desenvolvimento da força de trabalho na China. Através da adaptação de tecnologias já existentes, eles criaram soluções que abraçam demandas não atendidas.


Em vez de temer Shanzhai, talvez as empresas ocidentais pudessem aprender com seus elementos principais:

  • Construir nada do zero;

  • Melhorar gradualmente os processos;

  • Compartilhar com outras pessoas;

  • Agir com responsabilidade na rede.

Isso permitiria que as empresas inovassem mais rapidamente e continuassem competitivas no mercado.


A se pensar....


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