Entre os dias 4 e 7 de junho de 2024, o Vice-Presidente da República e Ministro do Desenvolvimento, Comércio, Indústria e Serviços, Geraldo Alckmin, esteve na China em visita oficial, sua primeira desde que assumiu o cargo.
No campo da simbologia política, essa visita foi especialmente marcada para comemoração dos 50 anos do estabelecimento das relações diplomáticas entre Brasil e China, além de 20 anos da criação da COSBAN (Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação), que teve sua sessão de 2024 realizada com a presença de Alckmin e do Vice-Presidente da China Han Zheng 韩正.
De acordo com o documento oficial publicado pelo Ministério das Relações Exteriores: “foram firmados 8 instrumentos governamentais e anunciados 29 resultado, além de 10 atos do setor privado nas áreas de agricultura, finanças, meio ambiente e mudança do clima, comércio, indústria, comunicação, saúde, educação, cultura, espaço exterior, micro e pequenas empresas, desenvolvimento social e rural e ciência, tecnologia e inovação.”
Também foi realizado, no dia 5 de junho, o Seminário Empresarial Brasil-China no qual o nosso CEO, Vitor Moura, esteve presente representando a Lantau e a Bracham (Associação Empresarial Brasileira na China).
Este artigo não entrará nos detalhes de cada acordo, que podem ser encontrados em texto publicado pelo Itamaraty, mas destaca pontos de atenção selecionados pela equipe da Lantau.
O primeiro destaque vai para o protocolo assinado entre o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil (MAPA) e a Administração Geral das Aduanas da China (GACC) para definição dos requisitos sanitários para importação da noz-pecã brasileira. Embora um produto menos conhecido, 70% da produção de noz-pecã do Brasil vem do Rio Grande do Sul, movimento que pode ser encarado tanto como um aprofundamento das relações sino-brasileiras dentro do agronegócio, como uma medida direcionada à ajudar o estado a se recuperar dos danos causados pelas recentes enchentes que sofreu.
Ainda no campo do comércio bilateral, uma iniciativa de grande destaque na mídia foi o acordo firmado entre a Apex Brasil e a Luckin Coffee, maior rede de cafés da China, para aumento da promoção do café brasileiro em lojas da empresa e volume de compras prevista em $500 milhões ainda em 2024.
Outro acordo importante foi o Memorando de Entendimento (MOU) para cooperação na aplicação de políticas públicas para micro e pequenas empresas. Essa iniciativa pode ser interpretada como um passo na direção de maior sincronia de políticas públicas para os outros níveis da economia de ambos os países, tirando um pouco o foco dos grandes grupos empresariais e operações de maior porte, para um apoio ao pequeno e médio empresário.
Mas o principal ponto da visita, reforçado por uma sequência de acordos, é seguramente a ampliação da cooperação financeira entre instituições de ambos os países. Novidades incluem: abertura da segunda seção de crédito de $500 milhões entre o Banco do Desenvolvimento da China (CDB) e o Banco do Brasil, $800 milhões de linha crédito entre BNDES e CDB, $500 milhões entre Banco de Importação e Exportação da China (EXIM Bank) e o Banco do Brasil e $250 milhões entre BNDES e o Banco de Investimento em Infraestrutura da Ásia (AIIB). A alta concentração de novas linhas de crédito, mesmo que ainda denominadas em dólar na sua maioria, auxilia no aumento da proximidade das instituições financeiras de China e Brasil, em linha com a macroestratégia de redução na dependência do dólar tanto no cenário global, mas especialmente no âmbito dos BRICS+, que também foi contemplado nas conversas com assinatura de MOU entre a Confederação Nacional das Indústrias (CNI) e a Associação de Invenções da China para estabelecimento da Aliança BRICS+ para ciência, tecnologia e inovação.
Refletindo uma tendência dos acordos de livre comércio modernos (FTAs), já mencionada em outro artigo da Lantau, a visita do Vice-Presidente Geraldo Alckmin também trouxe iniciativas nas áreas da cultura e social, como apoio ao ensino da língua portuguesa na China e a concordância em organizar conjuntamente o seminário de alto nível sobre cooperação em redução da pobreza.
De FTAs a MOUs, relações bilaterais no mundo multipolar vão muito além de pura diplomacia ou apenas acordos de comércio. No século XXI, nações estão ligadas em níveis mais profundos e conversas entre seus líderes abordam uma série de áreas e afetam diferentes áreas de ambas sociedades. Para quem trabalha em qualquer indústria com atuação além das fronteiras do Brasil, um olhar crítico, que consegue ver além do texto impresso no papel que está sendo assinado, se faz necessário e urgente.
Comments