![Fonte: DigitalAgro.](https://static.wixstatic.com/media/770982_21f82f17c06c4307bf203a30f8ecacd9~mv2.png/v1/fill/w_49,h_26,al_c,q_85,usm_0.66_1.00_0.01,blur_2,enc_auto/770982_21f82f17c06c4307bf203a30f8ecacd9~mv2.png)
Historicamente, a China enfrenta desafios significativos no campo alimentar, sendo reconhecida como um país estruturalmente deficitário em suprir as necessidades de sua população. A segunda nação mais populosa do mundo tem enfrentado problemas crônicos para alimentar sua vasta população, que transcendem os desafios contemporâneos.
Ao longo da história, vários episódios ilustram essa realidade, desde a queda da Dinastia Yuan (1279-1368) até a Grande Fome (1958-1962), resultando em um legado marcado por dificuldades no abastecimento alimentar. Com 20% da população mundial, que cresceu de 540 milhões em 1949 para 1,4 bilhões em 2023, mas dispondo de apenas 8% das terras cultiváveis do planeta, a pressão sobre os recursos alimentares e naturais é constante e tende a se intensificar.
Para uma nação onde a estabilidade social é uma prioridade governamental absoluta, a segurança alimentar vai além de uma questão econômica. Trata-se de uma questão existencial e estratégica, fundamental para sustentar o desenvolvimento e a coesão interna do país.
Consciente do histórico desfavorável e da importância da segurança alimentar para a manutenção da estabilidade social, a modernização agrícola foi incorporada como um dos “Quatro Pilares da Modernização” pelo líder chinês Deng Xiaoping (邓小平) no final da década de 1970. Reconhecendo a centralidade da questão, o governo chinês direcionou grandes esforços para o aumento da mecanização e da eficiência na produção agrícola.
Ao longo das décadas, diferentes iniciativas foram lançadas para promover o aumento da produtividade agrícola. Dentre elas, destaca-se o “Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutrição (2014-2024)”, que investiu em projetos voltados para biotecnologia e melhoria da produtividade no campo. Como resultado, a produtividade agrícola praticamente dobrou, passando de 29,3 mil para 61,5 mil toneladas por hectare desde 1980. Apesar desses avanços, o objetivo de autossuficiência ainda não foi plenamente alcançado.
Embora os progressos na chamada “agrotech” tenham sido inegáveis, desafios estruturais continuam a limitar a capacidade da China de atender às suas necessidades internas.
Obstáculos e Tendências:
A urbanização acelerada e a consequente redução de terras cultiváveis são um dos principais obstáculos.
A mudança nos hábitos de consumo, com maior demanda por carne, frutas e óleos vegetais e outros produtos que exigem insumos importados, com a soja, também pressiona os recursos internos.
A China tem flexibilizado suas metas de autossuficiência, aceitando a dependência externa segmentando produtos por grau de importância estratégica. Enquanto alimentos como arroz e trigo permanecem com baixa tolerância para importações, produtos como milho e soja são aceitos com níveis mais elevados de dependência externa. Atualmente, mais de 60% da soja consumida na China é importada, consolidando o papel de outros países como fornecedores chave.
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Oportunidades para o Brasil:
O Brasil, como maior exportador de soja do mundo, tem um papel fundamental no abastecimento chinês. Apenas em 2023, o Brasil exportou mais de 100 milhões de toneladas de soja, sendo que mais de 80% desse volume teve a China como destino.
O Brasil também exporta carne bovina, açúcar e outros produtos para a China.
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No cenário internacional, os atritos comerciais entre China e Estados Unidos – outro grande produtor das commodities necessárias para a segurança alimentar chinesa – ampliaram as oportunidades para os produtos brasileiros, que já vêm sendo aproveitadas de forma significativa. Esse espaço, porém, está sujeito a mudanças.
Com o novo governo de Donald Trump, existe a possibilidade de retomada de acordos comerciais entre China e Estados Unidos, o que poderia reduzir a participação brasileira no mercado chinês. Entretanto, é improvável que ocorra uma substituição completa do Brasil como fornecedor. A China valoriza acima de tudo a segurança no fornecimento, um status que só pode ser garantido com a diversificação de fornecedores.
Esse cenário não deve ser interpretado como uma vitória definitiva para o agronegócio brasileiro. Apesar de sua posição de liderança, o Brasil enfrenta sérios gargalos na sua cadeia produtiva. Os custos de exportação de soja do Brasil ainda são de duas a três vezes superiores aos dos Estados Unidos devido a problemas estruturais de infraestrutura e logística.
Enquanto a China busca equilibrar sua segurança alimentar e nacional, o Brasil permanece como peça-chave em sua estratégia global. Para o Brasil, a consolidação dessa parceria exige não apenas manter a liderança em volume exportado, mas também investir em inovação e eficiência que garantam sua competitividade no longo prazo.
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