
No dia 5 de março de 2025, o Congresso Nacional do Povo (NPC) se reuniu para a cerimônia de abertura das Duas Sessões anuais. No discurso de abertura, o presidente Xi Jinping destacou que a China está em um “momento crucial para consolidar seu desenvolvimento” e reafirmou o compromisso com a “modernização de alta qualidade”.
Segundo Xi, a China deve “perseverar sua própria via de desenvolvimento, fortalecendo sua economia e avançando na ciência e tecnologia para garantir uma prosperidade duradoura”. Na sequência, o premiê Li Qiang apresentou o Relatório de Trabalho do Governo de 2025 (2025 GWR) em nome do Conselho de Estado, delineando as prioridades econômicas e de desenvolvimento para o próximo ano.
O NPC e a CCPPC: uma visão geral.
As Duas Sessões – Lianghui, juntam os dois principais órgãos deliberativos e consultivos da China, Congresso Nacional do Povo (NPC) e a Comitê Nacional da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC). Esses eventos, definem como serão as discussões das principais demandas da sociedade chinesa, envolvendo minorias étnicas e empresários, associações de representantes civis e os principais políticos do Partido Comunista Chinês. O evento, que é anual, dura cerca de 14 dias, e teve início no último dia 05, no Grande Salão do Povo, em Pequim.
A Conferência é o principal centro de debates sociais do gigante asiático. Este órgão consultivo político, conta, com organizações populares, tais quais federações de mulheres, federações de ciência e tecnologia, federações industriais e representantes de vários grupos minoritários. A China, tem 55 minorias étnicas, que estão representados nesse órgão.
O Congresso é o maior corpo legislativo do planeta (2.900 membros) e tem o poder de legislar. A Conferência é um espaço para debates, um papel de ouvir as demandas populares e formular propostas que vão ser apresentadas no Congresso que vai criar as leis. O NPC, ao contrário da CCPPC, tem, em sua maioria, membros do Partido Comunista.
Temas abordados.
As sessões vão se intercalando entre as sessões do Congresso e da Conferência Consultiva. Como já comentado, primeiramente, apresentam um relatório de trabalho de tudo que foi feito ao longo do último ano, e na sequência as propostas e medidas para o ano que se vem.
Entre os temas trazidos pela Conferência neste ano, está o fortalecimento do senso de comunidade entre os 55 grupos étnicos do país promovendo a unidade e a solidariedade como pilares da modernização chinesa, e, além disso, também o estabelecimento de um abrangente marco de proteção do patrimônio cultural, com melhorias nas leis e regulamentos.
Ao longo dos 14 dias, os legisladores e legisladoras apresentam suas propostas para o desenvolvimento de suas regiões, seja na área do turismo, agricultura, indústria, com o objetivo declarado de perseguir a prosperidade comum.
Importante mencionar que em 2022, a realização gradual dessa prosperidade comum foi incorporada como meta na Constituição do Partido Comunista da China (PCCh).
Algumas das reuniões das delegações são abertas à imprensa. Durante a parte da coletiva é possível questionar e saber um pouco mais dos detalhes de alguns projetos.

O evento reforça algumas das mudanças que o país vem promovendo nos últimos anos, entre elas a incorporação da alta tecnologia em diversas áreas da economia com metas - a autossuficiência tecnológica e a sustentabilidade.
Por isso, a autossuficiência no setor se tornou um dos pilares no 14º Plano Quinquenal da China (2021-2025), onde pela primeira vez houve um capítulo dedicado à tecnologia.
O governo chinês prometeu criar um fundo para incentivar a inovação tecnológica que deve focar em inteligência artificial, tecnologia quântica e armazenamento de energia de hidrogênio. Esse fundo deve atrair investimento de governos locais e setor privado na ordem de mais de US$138 milhões em capital nos próximos 20 anos.
A China também anunciou um aumento de 7,2% no orçamento nacional de defesa para 2025, totalizando mais de US$ 249 bilhões para a modernização das Forças Armadas.
O presidente Xi Jinping enfatizou que a modernização militar deve ser conduzida de forma “eficiente, sustentável e com alta capacidade de resposta”. Além disso, o reforço da cooperação entre os setores civil e militar foi colocado como prioridade estratégica.
As Duas Sessões são observadas de perto por investidores estrangeiros, pois fornecem uma visão fundamental do cenário político da China, revelam as prioridades de Pequim para o próximo ano e delineiam a direção geral da política do país.
Destaques do GWR.
Os destaques do GWR da China para 2025, inclui a meta de crescimento do PIB de 5% e as prioridades do setor, bem como medidas para impulsionar o consumo, atrair investimentos estrangeiros, manobrar a transição verde da China e mitigar riscos financeiros.
O relatório também destaca avanços na produção e atualizações industriais, incluindo produção recorde de grãos e maiores rendimentos, crescimento significativo no valor agregado das indústrias de alta tecnologia.
De acordo com o GWR 2025, as metas propostas consideram as condições nacionais e internacionais e buscam encontrar um equilíbrio entre necessidade e viabilidade. A meta de crescimento do PIB de 5% busca apoiar o emprego, a prevenção de riscos e o bem-estar público, ao mesmo tempo em que se alinha com as metas de desenvolvimento de longo prazo. Enquanto isso, a taxa de desemprego urbana pesquisada é definida em aproximadamente 5,5%, refletindo os esforços para estabilizar o emprego em meio a desafios estruturais. A inflação dos preços ao consumidor é direcionada a cerca de 2%, visando manter a estabilidade de preços por meio de medidas políticas e de reforma. Alcançar essas metas será desafiador e exigirá um esforço significativo.
O GWR 2025 descreve uma visão estratégica abrangente para o desenvolvimento econômico e social. 2025 marca o último ano do 14º Plano Quinquenal, e o governo, portanto, enfatiza uma abordagem equilibrada — manter a estabilidade enquanto alcança o progresso.
Essa abordagem busca aprofundar reformas, expandir a abertura de alto nível e construir um sistema industrial moderno, ao mesmo tempo em que garante que o desenvolvimento e a segurança sejam gerenciados em conjunto. Ao fazer isso, os formuladores de políticas visam estimular a demanda doméstica, impulsionar a integração da inovação tecnológica e industrial, estabilizar os mercados imobiliário e de ações e gerenciar os principais riscos e choques externos, tudo com o objetivo de sustentar a recuperação econômica e melhorar os padrões de vida das pessoas. Também visa estabelecer uma base sólida para o início do 15º Plano Quinquenal.
No campo diplomático, Pequim deve detalhar suas estratégias para aprofundar alianças no Sul Global e responder aos desafios da relação com os EUA e a União Europeia.
A diplomacia de chefe de Estado, conduzida diretamente por Xi Jinping, será um dos marcos de 2025, ampliando alianças e fortalecendo parcerias estratégicas.
O ministro das Relações Exteriores, Wang Yi, criticou a política comercial dos EUA, questionando os efeitos das tarifas impostas por Washington. Na coletiva de Wang Yi, ele reforçou a ideia de que os países emergentes estão moldando a nova ordem internacional. A China convocou seus aliados a falarem “em uma só voz” para fortalecer sua representação na governança global. Entre os eventos diplomáticos de 2025 estão a cúpula da Organização de Cooperação de Xangai, o encontro dos BRICS no Brasil e a presidência do G20 pela África do Sul.
As decisões tomadas na NPC e na CCPPC impactarão não apenas a China, mas também a economia global e a geopolítica internacional. Pequim continuará investindo em inovação tecnológica, defesa e multilateralismo, fortalecendo alianças no Sul Global e desafiando a hegemonia ocidental nas relações internacionais.
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