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CIPS e o plano chinês para fugir do SWIFT

Atualizado: 13 de out.


O dólar americano. A moeda dos Estados Unidos é entendida como onipresente e onipotente, uma realidade indiscutível, um acordo tácito entre todos que operam no mercado internacional. Entendida como a opção mais estável na construção do arcabouço financeiro usado atualmente após o término da Segunda Guerra Mundial (1937-1945), o nível de confiança na moeda americana começa a ser afetado com as atitudes recentes do seu controlador.

A exclusão dos bancos russos do sistema SWIFT (Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication) usada como sanção em retaliação às ações russas no conflito na Ucrânia, criou incerteza para vários países que começam a se questionar quem poderá ser o próximo alvo.

Incerteza gera criatividade, e os incentivos para a busca por alternativas está em alta tendo a China como líder nessa corrida. Um passo essencial nessa complexa missão da circunvenção do dólar passa pela criação de um sistema que substitua o SWIFT.

 

O SWIFT

Concebido em 1973 por 239 bancos de 15 países, o SWIFT surgiu para resolver um problema enfrentado por todos: como comunicar pagamentos internacionais de forma eficiente e precisa. O sistema entrou em atividade no ano de 1977, substituindo a tecnologia Telex usada até então, com sua primeira versão: uma plataforma de mensagens, um sistema de computadores para validar e direcionar mensagens, e um conjunto de mensagens padrão.

      Já em 1983, o primeiro grupo de bancos centrais juntou-se a plataforma, consolidando de forma inquestionável sua posição no centro da estrutura financeira mundial. Mais de 50 anos depois, o SWIFT contempla 11.000 instituições em mais de 200 países e territórios, com 5,6 bilhões de mensagens enviadas anualmente.


O CIPS

“Onde houver renminbi, há um serviço do CIPS” é o termo usado pelo banco central da China para definir o sistema CIPS (Cross-border Interbank Payment System). A fase 1 foi lançada em 2012 e o sistema iniciou suas operações no ano de 2015 com 19 participantes diretos e 176 indiretos vindos de 50 países ou regiões.

Segundo dados oficiais do próprio CIPS, no ano de 2024, o sistema já atingiu 3.000 instituições em 167 localidades pelo mundo, com presença significativa de países signatários da Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI na sigla em inglês), responsáveis por 1017 instituições desse total em 59 países e territórios.

  Diferente do SWIFT, o CIPS opera com dois tipos de participantes: diretos e indiretos. A primeira categoria refere-se à instituições financeiras detentoras de uma conta própria no CIPS, enquanto os participantes indiretos acessam o sistema via participantes diretos.

  A concepção do CIPS também apresenta divergências significativas quando comparada com o SWIFT: ele é focado em aumentar a eficiência de pagamentos internacionais em renminbi, oferecendo serviços que vão além de apenas mensagens. As remessas processadas pelo sistema são liberadas diretamente na China seguindo o seguinte procedimento: cliente solicita ao banco (participante indireto) envio de um montante em renminbi para um participante direto, esse banco envia as informações para o CIPS, CIPS processa o pagamento, garante que a operação atenda às regulações relevantes e finaliza a transação transferindo o montante para a conta final.


Conclusões e desafios.

              O reconhecimento da necessidade de criação de uma alternativa ao sistema dominado pelos Estados Unidos apenas demonstra que a hegemonia americana estendia-se para além dos campos militar e político. Apesar da sólida estrutura e oferta de uma gama mais ampla de serviços, a comunicação entre os participantes indiretos e diretos ainda ocorre majoritariamente via SWIFT, mostrando a resiliência da estrutura anterior.

              A exclusão dos bancos russos do SWIFT comprovou a transformação do sistema em uma ferramenta de coerção americana que pode ser usada por motivações políticas e, consequentemente, imprevisível. Embora tenha tentado manter uma autonomia nas primeiras décadas de sua existência, o SWIFT foi forçado à colaborar com as autoridades americanas após os ataques do 11 de setembro, quando o rastreamento de montantes financiadores de grupos terroristas atuantes no Oriente Médio se mostrou indispensável para o combate contra o terror.

              Também se faz necessária menção a iniciativa para criação de moeda digital pelo banco central da China, o e-CNY ou renminbi digital. O uso dessa moeda tornaria dispensável a presença de sistemas intermediários (incluindo o próprio CIPS), pois as transferências seriam realizadas diretamente entre detentores de carteiras digitais no sistema criado para circulação do e-CNY. Segundo dados oficiais, este número estava em 261.000 carteiras digitais e circulação total de 87 bilhões de renminbi no ano de 2022.


 

Referências:







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