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Cidades inteligentes ou cidades de vigilância

Em todo o mundo, mais de mil pilotos de cidades inteligentes foram lançados. A China tem a metade dessas cidades, totalizando impressionantes 500 pilotos.

Imagine uma cidade onde você pode pegar um ônibus sem motorista ir a um supermercado sem vendedores, nem caixas ou entrar em um quarto de hotel usando um sistema de reconhecimento facial - um lugar com um cérebro controlado por inteligência artificial (AI), onde quase toda a infraestrutura e todos na cidade são monitorados e vinculados para algum tipo de software.


Estas iniciativas envolvem a coleta de grandes quantidades de dados pessoais, alguns especialistas estão levantando preocupações sobre o que está impulsionando o boom das cidades inteligentes na China e o que os projetos realmente significam para seus cidadãos.


A China argumenta que é pragmático criar cidades inteligentes: o governo alega estar totalmente engajado na implementação destas iniciativas como uma forma de aumentar a eficiência e a eficácia de suas cidades em rápido crescimento, proporcionando aos cidadãos melhorias no transporte, comunicação, gestão ambiental, segurança, elevando a qualidade de vida da população.


Segundo Peng Sen, presidente da Sociedade de Reforma Econômica da China “A China está passando por um processo de urbanização em larga escala, que exige governança social mais moderna, baseada em dados e inteligência”.


Em Hangzhou, uma cidade no leste da China com uma população de 10,36 milhões de habitantes, um sistema de cidade inteligente projetado pelo gigante tecnológico chinês Alibaba chamado "City Brain" está em uso desde 2016. Essencialmente, a City Brain é um sistema de inteligência artificial que usa Big Data e grande poder computacional para melhorar e corrigir problemas de tráfego. O sistema gerencia os sinais de trânsito em 128 cruzamentos e ajuda as autoridades da cidade a tomar melhores decisões com maior rapidez.


Por exemplo, o sistema rastreia ambulâncias a caminho dos hospitais, transforma todas as luzes vermelhas dos semáforos, em um caminho verde, permitindo que os pacientes cheguem com maior rapidez aos hospitais. Desde então, Hangzhou reduziu pela metade o tempo de viagem das ambulâncias.


O programa também permitiu que o departamento de trânsito da cidade trabalhasse com mais eficiência. Eles usam dados do hub de AI para chegar aos locais de acidentes e responder às infrações de trânsito mais rapidamente. "A City Brain pode detectar acidentes em um segundo e podemos chegar ao local em 5 minutos", disse Zheng Yijiong, o primeiro policial de trânsito da China a controlar os fluxos de tráfego com um parceiro de AI. É possível reduzir em até 15% o engarrafamento, otimizando o tráfego nas vias devido a monitoramento de todos os carros da cidade.


Já em Xangai como também em Pequim os serviços da prefeitura como tirar documentos, agendar médicos, comprar passagens de avião, trem, serviços comunitários em geral, e até mesmo divorciar, estão disponíveis através do WeChat aplicativo desenvolvido pela Tencent, similar ao WhatsApp, que possibilita a solução via celular facilitando o dia a dia dos cidadãos.


Nas grandes metrópoles encontrar uma vaga para estacionar o carro se tornou uma questão de sorte, já que a oferta de vagas é muito menor que a demanda de carros. Para resolver o problema do estacionamento público em Xangai, a gigante chinesa da tecnologia Huawei lançou uma rede inteligente de estacionamento que permite aos usuários encontrar, reservar e pagar por vagas nas proximidades, simplesmente a partir de um aplicativo no celular.


Os chipsets são incorporados abaixo dos espaços das vagas em mais de 300 estacionamentos em toda a cidade, que coletam e transmitem informações em tempo real sobre a taxa de ocupação dos estacionamentos aos motoristas por meio do aplicativo. Assim, o motorista busca a vaga mais próxima disponível, paga e estaciona evitando dar muitas voltas na busca de um espaço para estacionar e diminuindo o congestionamento nas ruas.


Mas enquanto empresas de tecnologia, autoridades e planejadores de cidades são rápidos em elogiar os benefícios das iniciativas de cidades inteligentes, os críticos alertam que muitos cidadãos desconhecem o impacto que os sistemas de coleta de dados podem ter na privacidade pessoal. "Cidades inteligentes são, acima de tudo, cidades de vigilância que permitem monitoramento e gerenciamento rigorosos de grandes populações", diz Vincent Mosco, especialista em cidades inteligentes e autor de "The Smart City in a Digital World". "Como líder em sistemas de cidades inteligentes, a China está sujeitando seus cidadãos a uma vigilância de rotina maior do que os cidadãos experimentaram em qualquer momento da história. Os sensores agora estão incorporados em toda a infraestrutura urbana e nos dispositivos que os cidadãos carregam. Estes coletam dados 24/7 com ou sem a conscientização e aprovação dos cidadãos".


Eva Blum-Dumontet, diretora sênior de pesquisa da Privacy International, uma instituição de caridade sediada no Reino Unido que defende e promove o direito à privacidade em todo o mundo, tem preocupações semelhantes. "A coleta de dados sem a devida proteção de dados significa que você cria um desequilíbrio de poder entre o governo que coleta os dados e os cidadãos cujos dados são coletados", diz ela.


Alguns argumentam que os cidadãos chineses não estão tão incomodados com essas preocupações quanto seus colegas no Ocidente. Em um painel de discussão em Pequim em 2019, Robin Li, CEO do maior mecanismo de busca da China, Baidu, disse que os cidadãos chineses estão mais dispostos a trocar privacidade por estabilidade. "Acho que o povo chinês é mais aberto ou menos sensível com relação à questão da privacidade", disse Li. "Se eles conseguem trocar privacidade por conveniência, segurança e eficiência, em muitos casos estão dispostos a fazer isso. "Seus comentários provocaram uma reação on line furiosa quando internautas chineses o criticaram duramente por fazer tal declaração. A reação sugeriu que os cidadãos chineses se preocupam mais com seus direitos à privacidade do que se supunha anteriormente.


Fan Yang, especialista em privacidade especializado em cidades inteligentes chinesas, acredita que cidades inteligentes são mais ou menos apenas um argumento de marketing que, na realidade, é uma armadilha para coletar mais dados que beneficiam principalmente autoridades e empresas de tecnologia. "Eles sempre falam sobre como as cidades inteligentes serão usadas para o bem público na solução de diferentes problemas urbanos.”


E você, o que acha?


Referências:



394 visualizações1 comentário

1 Comment


Unknown member
May 06, 2020

Possivelmente as "smart cities" ou cidades inteligentes já sejam uma realidade fora da China. Cidades como Barcelona utilizam dados obtidos de constantes pesquisas de marketing, pois a Constituiçao Espanhola, assim como de outros países da comunidade européia, preserva o direito a privacidade de dados. Qualquer gestao administrativa deve ser realizada prévio conssentimento do cidadao para poder introduzir os dados pessoais no sistema.

De modo que existem muitos aplicativos , para falicitar a prefeitura nas suas tarefas de gestionar a coleta de lixo, o estacionamento de bicicletas, a frequencia dos onibus intermunicipais, etc, porém sempre com critérios de preservaçao dos dados dos cidadoes.


O debate está servido, pois aplicativos para pedir um taxi, reservar um restaurante, comprar uma roupa já fazem…


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