O 20º Congresso do Partido Comunista da China (PCC) terminou no último domingo, 23/10, e agora inicia-se o período de especulações sobre quais serão os próximos passos e as direções que a China deve seguir no futuro.
Com isso em mente, a equipe da Lantau veio compartilhar a nossa leitura sobre o que aconteceu, e quais as tendências para a China.
1 - Consolidação absoluta de Xi Jinping.
O atual Presidente, Xi Jinping, ser apontado para seguir no cargo por mais 5 anos não foi nenhuma surpresa, mas a forma como isso foi feito não deixa a menor dúvida do seu poder à frente do partido.
A política chinesa é marcada por muita simbologia, eventos públicos são normalmente ensaiados e, em um ambiente altamente orquestrado, detalhes fazem a diferença na hora de analisar alguma situação. Desde optar por não ler o relatório de trabalho completo na abertura do Congresso, a contínua exclusão de opositores de cargos-chave, até a dramática retirada de ex-presidente Hu Jintao da sessão plenária, o evento foi marcado por uma série de evidências de que, Xi Jinping, tem o partido na mão como desde os tempos de Mao Zedong não se via. As políticas de Xi em nada tem a ver com o pensamento Maoísta tradicional, mas seu controle sobre a estrutura do PCC é incontestável.
2 - Sem sinais para o relaxamento da “COVID-zero”.
Frustrando uma expectativas que muitos analistas tinham, nenhum sinal foi dado com relação ao possível relaxamento das políticas de controle da pandemia sendo empregadas na China atualmente, popularmente conhecidas como “COVID-zero”.
Embora elas sejam prejudiciais para a economia no curto prazo, a liderança chinesa aposta na resiliência da economia de se recuperar, e segue com o discurso de que as medidas para controle da pandemia são necessárias para salvar vidas e evitar um colapso do sistema público de saúde.
Se esses são, ou não, os principais motivos, não se sabe, a premissa de que um controle tão rigoroso da pandemia é insustentável por muito mais tempo ainda se mantém, mas a tendência é vermos poucas mudanças nos próximos meses.
3 - O sucessor de Xi tende a estar entre os novos integrantes do Politburo.
Com 4 novos integrantes no Standing Comittee, e muitos mais no Politburo como um todo, a renovação do alto escalão do Partido foi avassaladora. Os escolhidos apresentam melhores qualificações acadêmicas do que a geração anterior e são tidos como adeptos e alinhados à visão representada por Xi Jinping.
É impossível não se perguntar: nesse cenário, quem deve ser o sucessor de Xi? Embora não haja uma resposta concreta para isso no momento, o próximo presidente da China deve estar entre os novos elevados aos cargos mais altos dentro do governo chinês, com uma atenção especial ao novo membro mais jovem do Standing Comittee, Ding Xuexiang, com apenas 60 anos. O assessor pessoal de Xi Jinping é tido como seu forte aliado e deve acompanhar de perto as atividades do presidente pelos próximos 5 anos.
4 - Sem grandes novidades com relação às políticas que já vinham sendo implementadas.
No meio de uma certa especulação sobre possíveis mudanças na direção que a China vai seguir, a verdade é que o 20º Congresso Nacional apenas confirmou a continuidade das políticas que, em larga medida, já vinham sendo implementadas.
Termos como “soberania”, “common prosperity”, “dual-circulation economy” já estão na retórica oficial do Partido faz algum tempo e isso não vai mudar. O que não deveria ser motivo nenhum para pessimismo. O novo time de gestão do PCC precisa se provar, e seria muito positivo que consigam dar sinais bons aos mercados de forma célere, mas os próprios objetivos da China, mais uma vez reforçados no 20º Congresso, exigem que o país siga se abrindo e interagindo com o mundo.
Discursos da volta do país ao estilo de gestão de Mao encontram pouco amparo na realidade e devem ser vistos com cautela. A mensagem geral de Xi Jinping foi de reconciliação e união, sem uso de retórica agressiva, reforçando a posição da China nesse novo mundo que se forma e reconhecendo o cenário extremamente complexo que o país irá enfrentar.
Agora resta ao mundo observar esse novo time em ação, até porque, como dito pelo próprio Xi Jinping em seu discurso de encerramento: “Assim como a China não pode se desenvolver em isolamento com o mundo, o mundo precisa da China para se desenvolver”.
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